Terras de Sicó Matem-se, esfolem-se, mas o produtor de vinho será sempre quem menos ganha na venda! Outubro 25, 2019 Ontem, numa surpreendente visita ao Museu do Vinho em Alcobaça, encontrei um quadro datado de 1957 que demonstra a relação do preço dos vinhos entre o vitivinicultor, o armazenista e o retalhista. Não posso dizer que os vinhos me surpreenderam, o que é uma pena. Mas este quadro não podia estar mais factual. Não existe maior estudo de mercado do que uma visita ao supermercado ou a leitura de uma carta de vinhos num restaurante. Toda a insensatez do negócio está ali, frontalmente evidênciada. E nisso, a Sonae é calejada, um vinho que custaria 9,99€ (sim porque 10€ o consumidor acharia fora dos paramentos), agora custa 1,99 ( 2,00€ seria um abuso). Regra nº 1: as grandes superfícies nunca perdem dinheiro e em média devem ganhar cerca de 40% em cada garrafa. Já a restauração não faz nada mais do que duplicar o preço de custo. Nos dias que antecedem, o vinho até pode custar 9,99€ para facilmente justificarem o mega desconto das ditas “feiras do vinho”. Se houver custos inerentes às promoções, a conta é enviada ao produtor! Infortunado produtor, que tem um ano de trabalho nas vinhas, faça sol ou faça chuva, haja granizo ou dilúvios fora de época. Produz e trata o vinho, engarrafa, rotulo, expede e, em grande parte dos caso, não se pode esticar em 40% de margem. Os produtores de vinho aprenderam a “viver sem tempo e sem dinheiro”.E felizmente para quem vende, não contabilizam as horas gastas do seu próprio trabalho. Não podemos ter medo das palavras e o comércio de vinho é uma grande treta. Não me espantava tal insensatez do negócio, se o produtor de vinho, num mundo encorpado de concorrência, não tivesse de satisfazer apoio técnico, exposições do enólogo, a obscenidade dos jantares vínicos ou qualquer outro entretimento que o comprador considere que some vendas.Continuo a achar que somos uma geração de burros consumidores. Consumidores que se esqueceram da génese dos nossos produtos e da raiz das nossas tradições. Entramos ali, olhamos para as prateleiras cheias, para as cartas de vinhos inundadas de nomes que todos conhecem e sentimo-nos os pobres ricos. Ricos de estupidez e pobres de culto. Um país que era tão culto nas suas raizes e tradições.