Matem-se, esfolem-se, mas o produtor de vinho será sempre quem menos ganha na venda!



Ontem, numa surpreendente visita ao Museu do Vinho em Alcobaça, encontrei um quadro datado de 1957 que demonstra a relação do preço dos vinhos entre o vitivinicultor, o armazenista e o retalhista. 


Não posso dizer que os vinhos me surpreenderam, o que é uma pena. Mas este quadro não podia estar mais factual. 


Não existe maior estudo de mercado do que uma visita ao supermercado ou a leitura de uma carta de vinhos num restaurante. Toda a insensatez do negócio está ali, frontalmente evidênciada. 


E nisso, a Sonae é calejada, um vinho que custaria 9,99€ (sim porque 10€ o consumidor acharia fora dos paramentos), agora custa 1,99 ( 2,00€ seria um abuso). 


Regra nº 1: as grandes superfícies nunca perdem dinheiro e em média devem ganhar cerca de 40% em cada garrafa. 
Já a restauração não faz nada mais do que duplicar o preço de custo.


Nos dias que antecedem, o vinho até pode custar 9,99€ para facilmente justificarem o mega desconto das ditas “feiras do vinho”. 


Se houver custos inerentes às promoções, a conta é enviada ao produtor!


Infortunado produtor, que tem um ano de trabalho nas vinhas, faça sol ou faça chuva, haja granizo ou dilúvios fora de época. 


Produz e trata o vinho, engarrafa, rotulo, expede e, em grande parte dos caso, não se pode esticar em 40% de margem. 


Os produtores de vinho aprenderam a “viver sem tempo e sem dinheiro”.
E felizmente para quem vende, não contabilizam as horas gastas do seu próprio trabalho.

Não podemos ter medo das palavras e o comércio de vinho é uma grande treta. 

Não me espantava tal insensatez do negócio, se o produtor de vinho, num mundo encorpado de concorrência, não tivesse de satisfazer apoio técnico, exposições do enólogo, a obscenidade dos jantares vínicos ou qualquer outro entretimento que o comprador considere que some vendas.

Continuo a achar que somos uma geração de burros consumidores. Consumidores que se esqueceram da génese dos nossos produtos e da raiz das nossas tradições. 

Entramos ali, olhamos para as prateleiras cheias, para as cartas de vinhos inundadas de nomes que todos conhecem e sentimo-nos os pobres ricos. 

Ricos de estupidez e pobres de culto. 

Um país que era tão culto nas suas raizes e tradições.